Darkside
of Innocence
Entrevista feita por
Jorge Ribeiro de Castro (Versus Magazine)
A filosofia da evolução
Após sete anos de existência,
Darkside of Innocence volta com um novo álbum, uma perda de membros, apenas
tendo ficado o seu mentor, Pedro Remiz, mas também com uma nova vitalidade.
Usando e abusando do classicismo, jazz e electrónica somos levados a uma viagem
sonora e psicológica que de certeza não nos deixará indiferentes.
1 – Saudações! Desde já, dou-te
os parabéns por um excelente álbum. Tendo em conta as influências musicais,
quais achas que serão pertinentes para descrever a sonoridade da banda? Achas
que ser original é contraproducente pois nem todos poderão compreender o que
foi criado?
– Boas, Jorge. Desde já fico-te
bastante grato tanto como pelo interesse, como pelos elogios proferidos
relativamente ao recentemente editado Xenogenesis. Bem, em primazia falar de
influências musicais é falar do mundo – daquilo que nos rodeia e daquilo que
podemos apreender do cosmos. Qualquer coisa pode fazer com que queiras produzir
um álbum; uma visão do paraíso, uma memória trágica, um sentimento que nos
prende a um determinado objecto ou ainda uma ideologia. É a expressão destes
pequenos grandes detalhes, dentro dos mais variados contextos artísticos, que
depois irá moldar a sonoridade/imagética relativa ao projecto. Já relativamente
à segunda questão, não penso que seja contraproducente, porque em primeiro
lugar o artista é quem se tenta deleitar em primeiro lugar, depois então e não
obstante, por norma procura satisfazer-se com o feedback social – que não
pretendo de todo menosprezar. Acho no entanto e realmente que quando há algo
muito diferente do que se espera conhecer – seja na música ou em qualquer outra
área da vida -, a reacção vai ser no mínimo de estranheza e em primeira
instância, penso que será mais complicado que aquilo se entranhe de uma forma
mais efectiva, levando-nos muitos vezes a rejeitar ao primeiro contacto, uma
possível nova abordagem artística.
2 – Cada ser é capaz de vir com
uma determinada filosofia embora nem sempre seja a mais positiva. Em que
consiste a que pretendes transmitir? Achas que o público será capaz de
compreender a temática, vir com as suas próprias ilações e olhar para o
universo de uma forma menos… comodista?
– A filosofia que abordo
permanece de certa forma, em incógnita até para mim mesmo. É a filosofia da
evolução, da constante mudança e da adaptação crua e dura ao que nos rodeia,
sem olhar para o ontem ou para o amanhã com remorso. É a filosofia de Sophia -
a magnitude que esta imprime em mim. Por acréscimo e sinceramente, ainda me
mobiliza uma necessidade altruísta de dar algo extraordinário ao mundo,
relembrando aqueles que igualmente trouxeram a mim, o que posso conhecer de
melhor hoje. Pondero a possibilidade do público entender a temática de uma
maneira muito intra-subjectiva e parcial, sendo que de certa forma, é só
através das suas projecções que o sujeito tem a oportunidade de entender o que
pretendo transmitir. Talvez seria melhor precisarmos ao que seria referente o
ser-se comodista perante o universo, antes de escrutinarmos o tema. Isto porque
não acredito em comodismos totalitários e generalistas. Tal como tudo, a
pergunta deve ter a sua especificidade ainda por cima quando falamos de um termo
que tem tanta extensão como o universo. Acho que cada pessoa tem necessidade de
obter prazer e evadir-se da dor e, graças à subjectividade que é inerente a
cada um e à nossa inevitável susceptibilidade aos mais variados estímulos,
fomentamos os mais variados desejos, que podem ou não, ter consequências
grandiosas ou desastrosas na nossa presciência colectiva. Talvez e a título de
exemplo, um jogador de futebol que ganhe milhões, feche os olhos à crise e à
miséria instaurada, mas não é isso que faz com que este seja menos ambicioso
noutros contextos talvez mais egocêntricos.
3 – Consegues encontrar um fio
condutor aquando da composição ou deixas-te levar pelo que te inspira no
momento?
– Deixo-me levar pelo que me
inspira no momento, por vezes. Noutros teço laços relacionais e estruturas que
ligam as músicas de forma perfeita e permitem a elaboração de obras de cariz
bem mais conceptual. E curiosamente é engraçado que fales nisso, já que ainda
recentemente estive a conceber mentalmente um novo registo com alguns temas
interligados de certa forma, que vem dar azo a esta nova era de renascimento
pelo qual os Darkside of Innocence estão a passar.
04 – Foi-te fácil compor para
este álbum, aquela necessidade que todos os artistas têm, mesmo com a perda de
membros? Há algumas músicas que te transmitem mais do que outras?
– Como quase toda a música que
temos feito, Xenogenesis teve os seus contornos mais delicados que levaram
alguma frustração e fragilidade a quem foi interveniente na sua composição. É
um álbum que marca uma época de transição, de uma banda que se formou há sete
anos atrás, quando éramos crianças inocentes com meros sonhos e fantasias sem
qualquer rumo ou saber, para um projecto que tem agora no seu cerne alicerçada
uma noção bem mais consciente e assente do que se deve projectar no meio em que
nos encontramos. Na verdade, é engraçado porque, no álbum há exactamente duas
fases; uma que representa o culminar dessa experiência enquanto banda – as
últimas três músicas excluindo a outro -, e uma fase que reflecte bem esse
renascimento – as três primeiras faixas excluindo a intro. No geral o álbum
apraz-me sem temas predilectos, fazendo fluir cada um destes com as suas
especificidades. Quando crio álbuns todos os temas têm que estar ao mesmo nível
na minha consideração.
5 – Gostei imenso da capa. Como
surgiu a ideia para a idealização da mesma?
– Obrigado. Especificamente é uma
imagem que trata da cada vez maior influência que Sophia tem sobre nós - seres
vivos capazes de sentir compassividade. Aquela sombra a projectar uma serpente
– que demonstra sapiência - para dentro da boca do personagem em foco,
representa a forma como cada vez mais somos sujeitos a atingir o modelo de
singularidade, à medida que vamos conhecendo o universo e abrangendo os nossos
padrões éticos a todos os tipos de vida sensível à dor e ao prazer. É engraçado
como parece de todo uma entidade maligna com motivações macabras, mas acho que
a minha intenção foi mesmo a de representar uma espécie de vírus que se quer
alastrar violentamente e vive à sombra da própria vida, ainda que a sua
necessidade de existência, possa ser considerada como algo benévolo. Foi um
processo de lenta incrementação com variações tremendas. As ideias nunca surgem
acabadas – pelo menos comigo – e neste caso não foi excepção. É a moldura de um
espaço temporal, em que vários fenómenos ocorrem e me inspiram consecutivamente
para criar arte.
6 – O que consideras ser melhor
para promover um agrupamento? Uma editora que edita álbuns da forma mais convencional
ou a Internet, que possibilita o download pago e ajuda mais a banda, mesmo que
seja mais difícil arranjar concertos?
– Acho que a conciliação das duas
possibilidades, é o caminho para um sucesso de vendas.
7 – Pretendes adquirir mais
membros de modo a poderes promover a banda, tanto a nível nacional como
internacional? Em suma, há já planos para alguns concertos este ano?
– Sim. É um dos sectores em que
me encontro a trabalhar actualmente, não só para possibilitar as desejadas
actuações em eventos ao vivo, como para poder compor um novo registo. Posso
adiantar, que me encontro a trabalhar com dois músicos, que em principio
constituirão parte do núcleo que a longo prazo deverá antes de tudo, ser
sólido. Relativamente aos concertos, não me concerne propriamente apressar as
coisas. Como referi numa das questões prévias, existiu um renascer no seio dos
Darkside of Innocence, sendo que, nesta fase tão prematura é totalmente
impensável levar o projecto para a estrada infelizmente.
8 – Agradeço-te imenso pelas respostas.
Deixa um comentário final.
– Aproveito para te parabenizar
pelas questões realizadas e pelo trabalho que tens vindo a efectuar. Confesso
ainda que comentei há uns dias com o Joel – da Infektion Records – como as
perguntas estavam muito bem elaboradas e deu-me gozo poder responder a estas.
entrevista publicada na "Versus Magazine"