sexta-feira, 6 de abril de 2012

Darkside of Innocence - Entrevista


Darkside of Innocence


            Entrevista feita por Jorge Ribeiro de Castro (Versus Magazine)

                                         


A filosofia da evolução


            Após sete anos de existência, Darkside of Innocence volta com um novo álbum, uma perda de membros, apenas tendo ficado o seu mentor, Pedro Remiz, mas também com uma nova vitalidade. Usando e abusando do classicismo, jazz e electrónica somos levados a uma viagem sonora e psicológica que de certeza não nos deixará indiferentes.



1 – Saudações! Desde já, dou-te os parabéns por um excelente álbum. Tendo em conta as influências musicais, quais achas que serão pertinentes para descrever a sonoridade da banda? Achas que ser original é contraproducente pois nem todos poderão compreender o que foi criado?

– Boas, Jorge. Desde já fico-te bastante grato tanto como pelo interesse, como pelos elogios proferidos relativamente ao recentemente editado Xenogenesis. Bem, em primazia falar de influências musicais é falar do mundo – daquilo que nos rodeia e daquilo que podemos apreender do cosmos. Qualquer coisa pode fazer com que queiras produzir um álbum; uma visão do paraíso, uma memória trágica, um sentimento que nos prende a um determinado objecto ou ainda uma ideologia. É a expressão destes pequenos grandes detalhes, dentro dos mais variados contextos artísticos, que depois irá moldar a sonoridade/imagética relativa ao projecto. Já relativamente à segunda questão, não penso que seja contraproducente, porque em primeiro lugar o artista é quem se tenta deleitar em primeiro lugar, depois então e não obstante, por norma procura satisfazer-se com o feedback social – que não pretendo de todo menosprezar. Acho no entanto e realmente que quando há algo muito diferente do que se espera conhecer – seja na música ou em qualquer outra área da vida -, a reacção vai ser no mínimo de estranheza e em primeira instância, penso que será mais complicado que aquilo se entranhe de uma forma mais efectiva, levando-nos muitos vezes a rejeitar ao primeiro contacto, uma possível nova abordagem artística.


2 – Cada ser é capaz de vir com uma determinada filosofia embora nem sempre seja a mais positiva. Em que consiste a que pretendes transmitir? Achas que o público será capaz de compreender a temática, vir com as suas próprias ilações e olhar para o universo de uma forma menos… comodista?

– A filosofia que abordo permanece de certa forma, em incógnita até para mim mesmo. É a filosofia da evolução, da constante mudança e da adaptação crua e dura ao que nos rodeia, sem olhar para o ontem ou para o amanhã com remorso. É a filosofia de Sophia - a magnitude que esta imprime em mim. Por acréscimo e sinceramente, ainda me mobiliza uma necessidade altruísta de dar algo extraordinário ao mundo, relembrando aqueles que igualmente trouxeram a mim, o que posso conhecer de melhor hoje. Pondero a possibilidade do público entender a temática de uma maneira muito intra-subjectiva e parcial, sendo que de certa forma, é só através das suas projecções que o sujeito tem a oportunidade de entender o que pretendo transmitir. Talvez seria melhor precisarmos ao que seria referente o ser-se comodista perante o universo, antes de escrutinarmos o tema. Isto porque não acredito em comodismos totalitários e generalistas. Tal como tudo, a pergunta deve ter a sua especificidade ainda por cima quando falamos de um termo que tem tanta extensão como o universo. Acho que cada pessoa tem necessidade de obter prazer e evadir-se da dor e, graças à subjectividade que é inerente a cada um e à nossa inevitável susceptibilidade aos mais variados estímulos, fomentamos os mais variados desejos, que podem ou não, ter consequências grandiosas ou desastrosas na nossa presciência colectiva. Talvez e a título de exemplo, um jogador de futebol que ganhe milhões, feche os olhos à crise e à miséria instaurada, mas não é isso que faz com que este seja menos ambicioso noutros contextos talvez mais egocêntricos. 

3 – Consegues encontrar um fio condutor aquando da composição ou deixas-te levar pelo que te inspira no momento?

– Deixo-me levar pelo que me inspira no momento, por vezes. Noutros teço laços relacionais e estruturas que ligam as músicas de forma perfeita e permitem a elaboração de obras de cariz bem mais conceptual. E curiosamente é engraçado que fales nisso, já que ainda recentemente estive a conceber mentalmente um novo registo com alguns temas interligados de certa forma, que vem dar azo a esta nova era de renascimento pelo qual os Darkside of Innocence estão a passar.


04 – Foi-te fácil compor para este álbum, aquela necessidade que todos os artistas têm, mesmo com a perda de membros? Há algumas músicas que te transmitem mais do que outras?

– Como quase toda a música que temos feito, Xenogenesis teve os seus contornos mais delicados que levaram alguma frustração e fragilidade a quem foi interveniente na sua composição. É um álbum que marca uma época de transição, de uma banda que se formou há sete anos atrás, quando éramos crianças inocentes com meros sonhos e fantasias sem qualquer rumo ou saber, para um projecto que tem agora no seu cerne alicerçada uma noção bem mais consciente e assente do que se deve projectar no meio em que nos encontramos. Na verdade, é engraçado porque, no álbum há exactamente duas fases; uma que representa o culminar dessa experiência enquanto banda – as últimas três músicas excluindo a outro -, e uma fase que reflecte bem esse renascimento – as três primeiras faixas excluindo a intro. No geral o álbum apraz-me sem temas predilectos, fazendo fluir cada um destes com as suas especificidades. Quando crio álbuns todos os temas têm que estar ao mesmo nível na minha consideração.

5 – Gostei imenso da capa. Como surgiu a ideia para a idealização da mesma?

– Obrigado. Especificamente é uma imagem que trata da cada vez maior influência que Sophia tem sobre nós - seres vivos capazes de sentir compassividade. Aquela sombra a projectar uma serpente – que demonstra sapiência - para dentro da boca do personagem em foco, representa a forma como cada vez mais somos sujeitos a atingir o modelo de singularidade, à medida que vamos conhecendo o universo e abrangendo os nossos padrões éticos a todos os tipos de vida sensível à dor e ao prazer. É engraçado como parece de todo uma entidade maligna com motivações macabras, mas acho que a minha intenção foi mesmo a de representar uma espécie de vírus que se quer alastrar violentamente e vive à sombra da própria vida, ainda que a sua necessidade de existência, possa ser considerada como algo benévolo. Foi um processo de lenta incrementação com variações tremendas. As ideias nunca surgem acabadas – pelo menos comigo – e neste caso não foi excepção. É a moldura de um espaço temporal, em que vários fenómenos ocorrem e me inspiram consecutivamente para criar arte.

6 – O que consideras ser melhor para promover um agrupamento? Uma editora que edita álbuns da forma mais convencional ou a Internet, que possibilita o download pago e ajuda mais a banda, mesmo que seja mais difícil arranjar concertos?

– Acho que a conciliação das duas possibilidades, é o caminho para um sucesso de vendas. 

7 – Pretendes adquirir mais membros de modo a poderes promover a banda, tanto a nível nacional como internacional? Em suma, há já planos para alguns concertos este ano?

– Sim. É um dos sectores em que me encontro a trabalhar actualmente, não só para possibilitar as desejadas actuações em eventos ao vivo, como para poder compor um novo registo. Posso adiantar, que me encontro a trabalhar com dois músicos, que em principio constituirão parte do núcleo que a longo prazo deverá antes de tudo, ser sólido. Relativamente aos concertos, não me concerne propriamente apressar as coisas. Como referi numa das questões prévias, existiu um renascer no seio dos Darkside of Innocence, sendo que, nesta fase tão prematura é totalmente impensável levar o projecto para a estrada infelizmente.

8 – Agradeço-te imenso pelas respostas. Deixa um comentário final.

– Aproveito para te parabenizar pelas questões realizadas e pelo trabalho que tens vindo a efectuar. Confesso ainda que comentei há uns dias com o Joel – da Infektion Records – como as perguntas estavam muito bem elaboradas e deu-me gozo poder responder a estas.

entrevista publicada na "Versus Magazine"

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