sexta-feira, 6 de abril de 2012

The Vision Bleak “Set sail to mistery”


The Vision Bleak
“Set sail to mistery”
2010 Prophecy Productions


            Após revolverem as águas sombrias de um frutuoso passado à procura de uma inquieta inspiração, The Vision Bleak regressam com um álbum que espelha em qualidade a sua pujante mistura de diversas referências musicais e literárias. Desta feita, sucumbem em todos os seus trabalhos anteriores e cortam amarras, navegando impiedosamente pela glória que o medo, a angústia e a lamentação poderão conceder.
            Como inicio, um poema de Lord Byron é declamado ao som de uma ténebre entoação que nos enleva em fantasmagóricas liberdades ao conhecermos por quais infames momentos iremos passar. Logo a seguir, surge uma procissão de ritmos sombrios que se agarram a sedutoras ambiências, estas velando a poderosa voz de Konstanz que é parcamente abusada por endemoninhadas vozes.
            Apesar dos momentos solenes, o que parece surgir para nos conceder uma certa paz, estes logo caem com as eloquentes melodias, os suspiros e os trejeitos de quem nos quer guiar até ao desconhecido. Já que nem sempre se conhece o descanso, quem se deixar levar pela desconfortável pomposidade de “Set sail to mistery” talvez até oiça o espírito dos grandes escritores de ambiências menos cómodas proferindo em coro que até a delicadeza poderá esconder um funesto terror.
Porque a coragem nasce nos momentos em que se descobre que o maior desespero é saber que a nossa sanidade se está a estreitar, sentimos que os passos já não são nossos. Somos guiados pela curiosidade só que o caminho já não parece tão incerto como antes. As novas músicas dos The Vision Bleak podem não transpirar a intranquilidade de outrora mas nos seduzem na convicção de que acompanham bem a melancolia numa enevoada madrugada.

(7,5/10)
Jorge Ribeiro de Castro 

crítica publicada na "Versus Magazine"

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